Wimbledon realizou-se em 2022 debaixo de muita polémica e sem pontos para o ranking ATP e WTA. Esta decisão foi imposta ao torneio britânico, após a polémica do mesmo proibir jogadores russos e bielorrussos de participar no terceiro Grand Slam da temporada.
Ora, após a determinação do All England Club em proibir certas nacionalidades no seu torneio (devido aos conflitos armados entre a Rússia e a Ucrânia), foi imediato o burburinho causado nos bastidores de que haveria alguma repercussão sobre isso. A ATP decidiu assim não fazer contar os pontos deste torneio, retirando assim uma das condicionantes mais importantes num torneio do Grand Slam.
E aqui a polémica instalou-se dos dois lados. Os jogadores russos e bielorussos, naturalmente, não ficaram satisfeitos por serem proibidos de jogar um dos maiores torneios do mundo (senão o mais importante), e aqueles que o podiam jogar ficaram indignados por verem todas as chances de conquistar mais pontos para o ranking, desaparecerem. Pois bem.
Quanto aos jogadores proibidos, dizer que todos, ou 99% dos mesmos demonstraram estar contra a guerra que se vive atualmente na Europa e, claramente, as intenções dos seus países não correspondem às suas opiniões e crenças pessoais, pelo que proibir estes atletas de participarem num dos maiores torneios do mundo, como sanções a determinadas nações, não me parece certo. Mais, estes jogadores poderiam servir de bandeira para uma resolução de paz e através do desporto demonstrar a sua posição e apelar para um fim ao pesadelo que se vive na Ucrânia, porque em nenhum momento, se viu, no circuito ATP, qualquer jogador a manifestar uma posição pró-guerra. Ainda assim, em Inglaterra, as ideias e a forma de ver estes atletas não parece ser esta.
Relativamente à decisão da ATP (e mais tarde da WTA) em retirar os pontos a Wimbledon, foi, na minha opinião, um braço de ferro que não estavam dispostos a perder. A posição da ATP tem sido clara desde o início dos conflitos armados: permitir a inclusão em todo o circuito dos jogadores pertencentes a países pró-guerra, jogando sob bandeira neutra. Desta forma o pretendido é não realizar uma propaganda a estes mesmos países, permitindo que os atletas não sejam prejudicados por ações com as quais não se identificam e não possuem qualquer poder de decisão. Bem, mas isso são outras núpcias. Voltando ao braço de ferro; o torneio de Wimbledon é o major mais antigo do circuito e aquele que todos querem jogar e por isso, parece assumir poderes e posturas que talvez não encontremos nos restantes torneios do circuito ATP. Mas a verdade é que todos os Grand Slam estão sob a alçada da ITF e a ATP talvez tenha visto uma oportunidade de defender as suas ideias, com a intenção de defender também os seus jogadores.
Contudo, no fim do dia penso que todos saíram a perder e não há uma resposta fácil ou certa para todo o caos que se instalou devido à decisão do torneio britânico. Houve jogadores obrigados a ficar de fora pela sua nacionalidade – incluído dois atletas do top 10. E todos aqueles que jogaram um dos mais importantes torneios do ano viram todo o seu esforço ser desperdiçado, uma vez que, ganhando ou não, os pontos nunca iriam contar, com a agravante de que esses mesmos pontos da edição transata iam também ser retirados. Em suma, esta “guerra” aberta pelo All England Club veio apenas perturbar os jogadores, o ranking e em nada foi benéfico, pelo menos na minha visão das coisas. A ATP tomou uma posição em concordância com a organização do torneio britânico, e se foi a mais correta? Talvez. Foi a ideal? Talvez não, mas dadas as circunstâncias era difícil arranjar um meio termo.