Foi notório que durante a temporada de 2022, os adjetivos para descrever Carlos Alcaraz começaram a ficar escassos. Em Maio de 2021 ganhava o Oeiras Open 125 e entrava no top 100 apenas com 18 anos, vencia o seu primeiro torneio ATP e conquistava a Next Gen Finals. O objetivo traçado então era conseguir alcançar o top 15 no ano seguinte. Mas quem previa que a história se ia escrever de forma tão diferente?
Alcaraz não só alcançou o top 15, como ganhou o Open dos Estados Unidos e terminou o ano como número 1 do mundo. E sim, estes são os dois maiores feitos, mas podíamos estar aqui a referir muitos mais alcançados durante a presente temporada. Mais que isso, Carlitos Alcaraz mostrou uma evolução e um crescendo de maturidade fora do normal, de uma temporada para a outra, e tendo em conta que tem apenas 19 anos.
Já sabem que por aqui falamos pouco das estatísticas, falamos das prestações, e do que importa, o jogo em si. O jovem espanhol tem um jogo extremamente poderoso de fundo de court e isso foi a grande arma para a sua ascensão rápida ao top 100. Ainda assim, no ano transato, faltava um segundo serviço que não comprometesse, uma esquerda mais fiável e uma maior variedade técnica. Tudo isso surgiu em 2022.
A evolução foi notória e Juan Carlos Ferrero – ex número um do mundo e atual treinador de Alcaraz – parece ter condicionado o treino do jogador espanhol na direção certa e com todos os elementos necessário. Para além de toda a parte técnica e tática, Carlos Alcaraz surgiu com uma preparação física impressionante e uma mentalidade de elite, praticamente inabalável. E onde se comprovou isso mesmo, foi no Madrid Open.
Alcaraz não só venceu Rafale Nadal, como no dia seguinte estava a bater Novak Djokovic – então número 1 do mundo. Após se tornar o primeiro jogador da história a bater Djokovic e Nadal em dias consecutivos no pó de tijolo, Carlitos continuou a senda de vitórias ao vencer a final diante de Zverev, que admitiu não ter armas para contrariar o espanhol, dizendo mesmo que era o melhor tenista do circuito à data que se defrontavam.
Os grande momentos foram surgindo e Alcaraz foi sempre mantendo uma postura serena e aparentava uma calma anormal para um jovem de 19 anos. Mas foi no Open dos Estados Unidos que, ao discutir o primeiro título do Grand Slam e o número 1 do mundo, que o jovem espanhol se mostrou efetivamente ao mundo. Numa final imperial onde foi sempre superior e mostrou estar pronto para ocupar o trono da modalidade.
A verdade é que daí em diante, vimos o tenista espanhol quebrar ligeiramente, principalmente a nível físico, sendo mesmo obrigado a desistir do seu encontro no Masters 1000 de Paris e consequentemente das ATP Finals.
Contudo, o que torna Carlos Alcaraz tão especial é a conjugação de variantes que talvez não fosse vista desde que os Big Three tinham a idade deste menino prodígio. Muito talento, potência de jogo, extrema disponibilidade física e, acima de tudo, uma mentalidade à prova dos grandes momentos. Alcaraz é o jogador que não tem medo de discutir um longo rally no fundo do campo, mas também não se recusa a vir para a rede terminar o ponto com um volley amorti.
O futuro é excitante, mas devemos ter muita cautela a fazer previsões. Tem tudo para dar certo, é verdade, mas rapidamente pode correr mal com uma lesão ou algo que não está no planeamento de treino. Mas sejamos otimistas. Uma das rivalidades que se avizinha num futuro não muito distante, será provavelmente entre Jannik Sinner e Carlos Alcaraz , que se forem capazes de produzir pelo menos metade da qualidade do que vimos no Open dos Estados Unidos, terão o mundo do ténis a aplaudir de pé e farão esquecer por momentos os Big Three.
E agora que a temporada acabou, resta apenas esperar que Carlos Alcaraz recupere da lesão abdominal contraída em Paris, e que se apresente ao melhor nível já em Janeiro no Open da Austrália, onde, se isso acontecer, será um sério candidato à vitória e à conquista do seu segundo Grand Slam.